quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Emos, indies e modernos



Pela extravagância visual e na atitude, os emos são um grupo mais realçado no meio de tantos outros. São jovens que escutam hardcore com letras melódicas, têm cortes de cabelos que radicalizam uma franja que cobre um dos olhos, pretendendo um ar misterioso e dramático. As roupas lembram a agressividade punk ou a amargura gótica, as vestimentas negras com detalhes de spikes (espetos metálicos), couro, ganham detalhes amáveis, como pequenos bichos de pelúcia, dados, cerejas e bottons ilustrados e coloridos.


O termo “emo” foi criado nos Estados Unidos a partir de um estilo musical derivado do punk dos anos 70, o emocore. Com melodias hardcore aliadas a letras emotivas, as músicas do emocore, incitam um comportamento sensível e sofredor. Durante os anos 90, o estilo emo foi se refinando, absorvendo novidades tecnológicas do vestuário e tendências da moda jovem. No começo dos anos 2000 esse estilo de juventude chegou ao Brasil com bandas como Fresno e NX Zero. Os emos se reúnem na praça da savassi em grande volume e disputam lugar com punks e góticos. Porém, talvez devido a faixa etária predominantemente inferior, desaparecem a medida que a noite avança.

Avistados de longe, os indies se parecem com emos. O mesmo tênis all star, o mesmo padrão quadriculado em detalhes da camisa e até o mesmo cinto com rebites metálicos. Porém, há divergências cruciais entre os dois grupos: em primeiro lugar o estilo musical e em um segundo lugar apertado o corte de cabelo, menos radical e mais funcional. O termo “Indie” também tem suas origens nos anos 80, e denota bandas sem contrato com grandes gravadoras, que fazem um estilo de música que divergem ao comercial propagado pela indústria musical massificadora. Sonic Youth, The Stone Roses e Jesus and Mary Chain são algumas das bandas de indie rock que influenciaram a música indie nos anos 90 e 2000.

Indies, portanto, gostam de indie music. Ou quase isso. O gênero, denominado Indie que já fez referência às produções independentes, hoje abrange todas as bandas que seguem um estilo Indie, contratadas ou não. Por paradoxal que pareça, há um visual respeitado e uma sonoridade apreciada – aquela que não é compartilhada por muitos e não toca no rádio, de preferência. Talvez por essa recusa ao atual, a sonoridade indie vai muitas vezes reviver o que já fez sucesso nas paradas pops das décadas de 60 e 70, e, exaustivamente, na década de 80 e hoje está esquecido. Bandas como The Pippettes, Alphabeat, Interpol, Belle and Sebastian reciclam a sonoridade vintage. O estilo de vestuário acaba refletindo este revival, abusando de peças que rememoram outras décadas, all stars, vestidos, camisas abotoadas, óculos de aro grosso. O guarda-roupa de um indie também é composto pela manifestação do gosto através de camisetas com delicadas estampas de bandas desconhecidas do grande público.

Os modernos, por sua vez, são facilmente diferenciados das outras duas tribos. Em geral, eles brilham, literalmente, e estão a um passo à frente. Modernos gostam de música eletrônica e podem ter sua origem apontada no final dos anos 80 e início dos anos 90, com o desenvolvimento do Techno. Desde então, os modernos do ano 2000 gostaram de electroclash, passaram para o electrotrash, e depois de uma década de atitude blasée e distanciada de pobres mortais na pista, em 2006 juntam-se ao neo-movimento paz e amor. Em 2008, aderem ao new-rave, também reconhecido como movimento das festas para amizades instantâneas com música eletrônica dançante. O importante é sorrir bastante, usar muita cor e brilho e fazer um milhão de amigos na noite.

Eles estão em constante mutação. São levados pelas pré-tendências e muitas vezes são vanguarda de movimentos da estética pessoal que acabam no mainstream (aquilo que todo mundo começa a usar). Enquanto isso emos se vestem como seus ídolos sofredores e indies mantém uma tranqüilidade estilística monótona, trocando listras por bolinhas de vez em quando. Os modernos podem tanto abusar de cores e penteados quanto entrar em uma onda minimalista e monocromática, dependendo da estação.

Ao contrário de barbies, pocs, finas e colocadas, os emos, indies e modernos não são tribos exclusivamente compostas por homossexuais. A tribo do emocore é erroneamente generalizada como bissexual, enquanto o grupo apenas defende demonstrações de afeto independente do sexo ou orientação sexual. O emos adotam também uma estética andrógena, mas nenhum desses fatores impõe alguma definição sobre a sexualidade de seus integrantes. Talvez pela intenção de ser vanguarda e considerar esses preconceitos ultrapassados ou talvez por uma atitude de indiferença à orientação sexual, os indies e modernos condenam a homofobia e congregam grande parte de LGBTs.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Livros, filhos e árvores


Como anunciado no post abaixo, defendemos nosso projeto experimental nessa quarta-feira, dia 10. Fomos aprovados, eu (Vinícius) e Maria Tereza, agora virtuais jornalistas. Já é clichê dizer que publicar um livro é como ter um filho. Alguma verdade há nisso, mas não de todo. Fazer filho é coisa que se resolve em menos de meia hora dentro de circunstâncias favoráveis. 

Um livro demora muito tempo e nem sempre dá prazer. Depois da aprovação, muita gente me disse que agora eu só precisava plantar uma árvore e ter um filho para meu tempo valer aqui na terra. A única árvore que plantei, no jardim da Igreja Batista em minha cidade-natal, não chegou a crescer e foi cortada para dar lugar à casa do pastor. O filho é mais difícil. Na noite passada sonhei que a Maria Tereza queria engravidar e que eu doaria o sêmen pra ela, mas por alguma confusão onírica o projeto não foi adiante. 

Agora nós nos perguntamos: o que será desse blog? Faz sentido continuar com ele? Publicamos o livro-reportagem aos pouquinhos aqui? Continuamos a falar mal das boates de BH? Transformamos esse espaço em muro de lamentações público? Muitas perguntas, amigos. As respostas virão com o tempo. Nesse meio tempo vou continuar a pensar em novos filhos, árvores e livros. Um abraço!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Defesa


Depois de noites mal dormidas, várias entrevistas, milhares de caracteres, ficou pronto o nosso livro-reportagem! Com algum frio na barriga, nós convidamos você para assistir a nossa defesa, ou seria gongação pública?
Enfim, esse daí é o layout da capa, feito pelo artista Glauber Rodrigues.



Defesa de projeto experimental:



Livro-reportagem Cidade dos Outros - Espaços e tribos LGBT em Belo Horizonte

Dia 10, às 9h15 - Sala 2, terceiro andar da Fafich, Campus Pampulha/UFMG.



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Barbie boy, in a barbie wear.


“O mundo Barbie é cor-de-rosa, feito de sonhos e fantasia, onde tudo é possível.”, Cláudia Garcia, Almanaque Folha, sobre a boneca. 

A boneca Barbie foi criada em 1959, nos Estados Unidos, por Jack Ryan a pedido de Ruth Handler, esposa do dono da fábrica de brinquedos Mattel. Loura, de corpo esguio, mas bem torneado, a boneca é vendida em todo o mundo, seja em sua versão tradicional ou em versões temáticas: Fundo do Mar, Barbie Estrela, Barbie Borboleta... Já protagonizou dezenas de filmes, entre eles “A Magia do Arco-Íris”, lançado em 2007. Quase toda menina menor de 10 anos sonha ou já sonhou em ter um exemplar. Mas a Barbie não é sozinha no mundo, desde 1961 conta com a companhia de Ken, seu namorado, rapaz levemente bronzeado, corpo bem esculpido e cabelo liso ornado por um sutil topete.

Por um desvio de significado, a descrição de Ken caberia bem a qualquer barbie, personagem encontrado nas baladas gays aos montes. Malhados, bronzeados, cordão de prata no pescoço, cueca Calvin Klein com elástico à mostra, um jeito de dançar que evidencia cada músculo trabalhado na academia e expressão facial que ignora qualquer crise econômica ou as pessoas à volta. Quando optam por desprezar o uso da camisa, ficam bem semelhantes ao Ken da linha Barbie vai à Praia.

O sociólogo Carlos Figari, em seu livro, “@s Outr@s Cariocas –Interpelações, experiências e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro – Séculos XVII ao XX”, relata que o grupo não desperta muita simpatia entre outros gays: “Uma das mais concisas e pejorativas que ouvi a seu respeito é que ‘barbie tem corpo de Tarzan, cabeça de chita e voz de Jane’. Entretanto, essa rejeição encobre o fato de que a maioria dos outros as desejam, seja como modelo estético ou erótico”. O sociólogo completa o raciocínio lembrando que homens que ilustram capas de revistas gays, go-go boys e modelos publicitários, ao menos esteticamente, se assemelham às barbies.

Nesse momento, cabe um parêntesis: não se sabe porque, as barbies são chamadas assim, no gênero feminino, mas como todo mundo se refere dessa forma a esse grupo, da mesma forma será feito aqui. Preconceitos à parte, a tribo das barbies surgiu nos Estados Unidos na década de 80 como resposta às imagens de gays destruídos pelo mal da década, a Aids. Daí o excessivo cuidado com o corpo e a aparência, a falta de inibição em se mostrar, que se somam ao apreço a determinadas marcas e produtos e o gosto por música eletrônica.

Embora existam tantas definições sobre o que é ser barbie, seja a boneca ou a identidade, como visto acima, é difícil encontrar alguém que declare: “Sou uma barbie”. Segundo Carlo Figari, ainda em seu livro, entre elas não há uma autoconsciência coletiva. Na verdade, o grupo se constitui mais por compartilhar gostos e estilos de vida comuns do que usar uma camisa com a palavra “barbie” estampada, a estampa Everlast já é suficiente.

Nas noites de Belo Horizonte, pessoas caracterizadas como barbies costumam se concentrar principalmente na Josefine, embora não se sintam desconfortáveis na Miss Pig. Elas também costumam se reunir em PVT’s, festas privadas em sítios, onde rola muita música eletrônica e elas podem se exibir à beira da piscina.

P.S: Essa é uma partezinha do livro-reportagem, que fica pronto na sexta-feira!! Como está editada, tem muito preconceito destilado.  No desenvolvimento do texto, a coisa fica mais amena com as barbies, que são pessoas legais ;). Leia e comente.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Fora da barraca

Se nosso trabalho fosse feito em Salvador, a Barraca Aruba seria lugar obrigatório de passagem.




P.S: a gente também somos CDF!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

É isso aiiiií....


Enquanto a revista americana Out fez a lista dos cem maiores álbuns gays da história e o Gay Blog publicou as mais mais brasileiras, a gente defende a publicação da lista das mais lésbicas do Brasil. Em nossas incursões por bares e boates de BH, foi possível descobrir algumas preferências musicais das meninas. Óbvio que não se trata de nenhuma investigação científica profunda, por isso a coisa é meio anárquica mesmo.

Bom, pra começar, elas gostam muito das divas da MPB e tão se lixando pra Madonna, Rihanna, Beyoncé ou qualquer coisa do tipo. O que bomba são os graves melancólicos de Nana Caymmi, a rouquidão de Cássia Eller, a força de Zélia Duncan e a voz fálica de Ana Carolina. Isso sem contar outras como Maria Bethânia, Gal Costa, Zizi Possi, Joanna, Marisa Monte e Renata Arruda. Algumas canções dessas intérpretes são alçadas ao patamar de hinos e emocionam repetitivamente as platéias de barzinhos.

A canção Ouro pra mim “Mudou tudo no amor, outra cara, outra forma de ver e sentir, o que antes eu não entendia agora é ouro pra mim”, do compositor Peninha, é exemplo de hino não oficial. Sucesso na voz de Renata Arruda em 1999, na trilha da novela Andando nas Nuvens, é cantada do início ao fim pelos freqüentadores da Gis.  Sinais de fogo, “Porque você não olha cara a cara, fica nesse passa não passa, o que te falta é coragem” composta por Ana Carolina e Antonio Villeroy, lançada em 2004 por Preta Gil, também não foi esquecida. Em comum, essas músicas têm temática de amor e trechos que podem ser interpretados como mensagens implícitas sobre desafios da sexualidade marginalizada, por isso ganham a simpatia das dykes.

Além das músicas recolhidas em observação participante, também temos outras canções que são hinos do amor entre mulheres: Resposta ao tempo, da Nana Caymmi; Asa Morena, de Zizi Possi; Várias da Simone; Veneno, da Marina Lima (opinião nossa, como todo o resto, aliás). 

Okay, a gente sabe que tem outras várias, que tem injustiça, mas é de propósito. Se você lembrar de mais alguma, coloque nos comentários! A gente agradece.

P.S: Fomos divulgados pelo BHY, fato que nos deixou realmente comovidos.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Locomotiva


O Estação 2000 evoca outros tempos que não este século. O salão principal abriga um bar, a pista de dança que possui palco e um ambiente com mesas e cadeiras. Ao fundo do palco, a imagem em grande escala do logotipo da boate, uma locomotiva, dá personalidade ao ambiente. A composição dos espaços lembra um cabaré da década de 60, daqueles vistos em minisséries e filmes nacionais, em tons de abajur cor de carne.

Durante a semana, a boate recebe travestis e drag queens para apresentações de dublagem. Aos sábados, dois cantores se revezam no palco do Estação. A performance dos dois reforça a sensação de não estar no presente, o que não é necessariamente ruim. Acompanhados da batida de um karaokê, Ângela Evans e Wellington Faria cantam sambas tradicionais, músicas sertanejas, clássicos da MPB e os últimos sucessos de Beyoncé ou Rihanna em versões alternativas e até remixadas.

No início da noite, o clima é de reunião de amigos que se conhecem por mais de uma década ou encontros na mesa de bar, homens acima dos 30 anos debruçados sobre o balcão bebericam enquanto conversam. As mesas nos cantos da pista de dança abrigam os mais observadores. Pouco antes da meia noite a boate começa a esquentar e ganhar traços de balada gay. O público se multiplica, a música anima a pista e tem início a jogação – de braços, pernas, cinturas e cabelos, ainda que algumas vezes escassos.

O Estação tem forte apelo para quem procura paquera e pegação, a entrada costuma ser barata em relação a outras casas e o público, mais maduro. A partir das duas da manhã o limite máximo de lotação favorece ainda mais as interações físicas.

No fim da nossa visita, avistamos um padre ortodoxo circulando faceiro entre a massa do Estação.

Estação 2000
Avenida Barbacena, 823 
Barro Preto - BH

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Invisibilidade lésbica

Enquanto estamos muito entretidos escrevendo o livro, o relatório técnico e transcrevendo entrevistas:

















Certamente eu queria dizer límbicas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Léo Batista e Bebel Sampaio















































Imagens que valem mil palavras.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A mais famosa de todas


A Josefine fica bem ali na Antônio de Albuquerque, perto do Café com Letras. Provavelmente você já deve ter ouvido falar. A última vez que fui no local foi há uns dois, três meses atrás, numa quinta-feira, famosa Quinta Mix. Era dia de decisão do Mr.Gay Minas e eu estava lá pra fazer cobertura pra Rádio UFMG Educativa. Só pra constar, o vencedor foi Patryck Scalco, da cidade de Machado, que por sinal, não compareceu à competição do Mr.Gay Brasil semana passada. Enfim. Vamos falar da casa. Como eu era a única pessoa da imprensa no local, era alguém na noite. E quem é alguém na noite tem privilégios. Pude acessar a pista 2 da Jo, que nesse dia era só pra VIP's, com direito a suco e álcool de graça. Mas não bebi pra dar uma geral no lugar, que tem decoração futurista, daquele futuro imaginado décadas atrás.

O que bomba mesmo é a pista 1, que ocupa mais espaço e fica no primeiro andar. É lá que as pessoas interagem, dançam com mais efusividade e se pegam. Um detalhe do lugar é que os rapazes tiram a camisa pra dançar e exibir o resultado de anos de ferro puxado na academia. Não há restrições quanto a temperatura, era inverno na época e eu fazia parte da meia dúzia agasalhada. Depois de quatro incursões seguidas à casa, notei que o número de descamisados aumenta a partir de uma da manhã. Meia hora depois aumenta o número de casais.

Por volta das duas horas, Walkíria La Roche sobe no palco. Se você não sabe quem é, também não preciso dizer. Mentira, ela é trans e faz as honras da Josefine. Brinca com a platéia, dança e apresenta as atrações: gogo boys sarados, que mexem o corpo pra lá pra cá, tentando mostrar alguma sensualidade. Logo em seguida, dois rapazes entram mostrando tudo mesmo. Ouve-se gritos e suspiros.

Mais um detalhe da Jo: no canto direito do palco existe uma portinha que dá acesso aos camarins, ao lado fica uma escada que leva ao dark room. Pra quem não sabe, a dark é uma sala escura (!), onde as pessoas entram e se pegam (mesmo), sem saber quem é (são) a(s) outra(s) pessoa(s).

Para conferir
Josefine (quintas e sábados)
Rua Antônio de Albuquerque, 729 - Savassi
P.S: Em outros dias, o local se traveste de Roxy e se torna hetero.

domingo, 7 de setembro de 2008

Crime do parque

Convite para o lançamento do livro Paraíso das Maravilhas - Uma história do Crime do Parque, de Luiz Morando:


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Amici



http://deise.info/wp-content/uploads/2008/02/j0422285.jpg

Dois pro lado, dois pro outro, um passo pra trás, outro pra frente, levanta a perninha e repete outra vez. Não é academia de ginástica, nem Missa do Padre Marcelo. O pessoal que freqüenta o Amici Club, de BH, dança desse jeito mesmo, fazendo passinho com a música pop (com o funk tb). A anfitriã da casa é Bebel Sampaio, versão travestida de Léo Batista. De cara ela percebe que é nosso debut no local, explica de forma muito atenciosa que a entrada é 5 reais revertidos em consumação e recomenda diversão. A gente agradece.

É difícil explicar a decoração do lugar, na falta de adjetivos, fica a definição "eclética". Na porta, uma estrela inflável de várias pontas cintilava solitária. Na parte interna, um clima de aniversário de dias antes: faixas de papel crepom perpassam juninamente o teto, enquanto uma dúzia de balões meia bomba compõe o clima nostálgico de festividades da véspera. Um globo de vidro, lampadinhas coloridas, desenhos de homem e mulher pelados mais bolinhas pintadas na parede também ornam o local.

O primeiro andar da boate é dividido em dois ambientes, o primeiro com o bar e o segundo com a pista de dança. Entre eles, uma passagem aberta e outra ‘secreta’ num corredor localizado embaixo das escadas que levam ao banheiro feminino e à lan house do segundo andar. A passagem secreta emanava uma vibe de dark room potencial, só que estava vazia quando fomos espiar.

Na contramão de outros espaços, a pista de dança no Amici divide espaço com meia dúzia de mesas. E olha, quem teve essa idéia deveria ganhar um prêmio, porque depois de duas horas de bate-cabelo intenso, uma cadeira é que nem Coca no Saara. Outra idéia boa do lugar é vender cachorro quente a um preço módico, porque em boate glamurosa, todo mundo dança a noite inteira e faz carão de estômago vazio.

Na pista de dança, um go-go boy, que horas antes chegou num Passat branco, subiu no palco e levou homens e mulheres a loucura com sua dança sinuosa (típica dos gogos, aliás). Depois da apresentação, o gogo de sunga sentou numa mesa ao lado da nossa, de onde foi possível ouvir o assédio de duas fãs.

Antes de sair, experimentamos o cachorro quente, que vem com queijo, passas e ervilha. Não fosse pela temperatura, o molho estava um pouco frio, teríamos aprovado com louvor. Na hora de pagar, Bebel Sampaio, que já tinha dado uma volta pela pista, estava no caixa e quis saber por que a gente ia embora tão cedo (era uma hora da manhã). Interrompeu sua curiosidade para repreender um segurança que se enrolava com uma comanda: - Aprende a trabalhar, pô! Certeza que a fala era de Léo Batista e não Bebel.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mapa LGBT de Belo Horizonte

No final de julho, conversamos com o pesquisador Luiz Morando, que lança em setembro o livro “Paraíso das maravilhas: uma história do crime do parque”. A obra conta a história verídica de um assassinato ocorrido no parque municipal no final da década de 40, envolvendo homossexuais. Morando nos passou uma lista com lugares para o público gay que existem ou já existiram em Belo Horizonte desde a década de 50. Estamos transferindo os dados para um mapinha. Confira um pedaço da viagem no tempo:


Exibir mapa ampliado

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Bar Banzai

[540393772_76c7b6c5fe.jpg]

Como em qualquer outro bar de BH, fala-se muito alto no Banzai, assim como bebe-se muita cerveja. A diferença desse local em relação a outros é o número de pessoas do lado de fora do armário. Um festival de tipos: homens masculinos, efeminados, meio-termo, travestis, mocinhas sapatilhas e dykezonas. Mesas em abundância dentro e fora do boteco estão constantemente lotadas. Localizado na esquina da Avenida Augusto de Lima com a Rua Padre Belchior, no centro, o Banzai funciona 24 horas por dia.

O lugar é utilizado para o esquenta antes de seguir para a Amici, boate que fica do outro lado da rua, ou para outras casas da região. Parece que só um garçom atende as dezenas de mesas apertadas na calçada e na beira da rua. "Um minutinho, colega", diz o garçom em meio às reclamações. Além de bebidas, o lugar também serve comida de buteco. Optamos por pedir espetinhos de carne de boi e de frango, que chegaram bastante tempo depois, com as carnes fora do espeto, em pratos, afogadas na gordura. A porção de frango frito da mesa de lésbicas ao lado nos pareceu bem mais apetitosa.

No meio disso tudo, uma travesti fantasiada de super-herói/heroína fazia campanha para um vereador. A trava falou que o candidato não é gay, mas soltou um risinho de desconfiança. Acompanhando o movimento, deixamos o Banzai pouco depois das 10 horas para seguir até a Amici, naquele sábado, quem entrasse antes das 11 não pagava entrada. Enquanto sentávamos na sarjeta esperando o volume da fila aumentar, uma pequena multidão saiu apressada de dentro do Banzai. Alguns instantes depois, dois homens passavam por nós comentando que alguém tinha dado uma garrafada na cara de outro em uma discussão. Em poucos minutos, a polícia parou em frente ao bar, mas ninguém desceu do camburão. Rapidamente as pessoas repovoaram o Banzai e não confirmamos a versão da história.

Quer conferir?
Bar Banzai: Avenida Augusto de Lima, 550B - Centro.
(tenha paciência para conseguir sentar).

Fora da casinha e o projeto experimental

Nosso projeto de conclusão de curso de Comunicação é um livro-reportagem sobre as tribos LGBT de BH. A idéia é mostrar que essas redes de amizade servem de suporte para a expressão da sexualidade. Contaremos por aqui algumas de nossas aventuras em busca de histórias. Pra começar vamos falar dos lugares que percorremos. Você pode ler pra matar a curiosidade ou então pra saber aonde ir mesmo (ou não ir).

* Fora da casinha é uma expressão utilizada para designar pessoas fora do armário, ou seja, que já assumiram sua orientação sexual para a sociedade.