segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Armário Público


Pensamos em váaarias possibilidades de sobrevivência para esse blog e apesar de tudo, encontramos. Ao invés de publicar nosso livro em pedacinhos, optamos por uma via mais difícil. Para o leitor, claro. Na vibe das coisas colaborativas e tudo mais, gloriosamente lançamos a promoção Armário Público.

E de que se trata?


Quem estiver interessado em ganhar uma cópia PDF (!) do livro
Cidade dos Outros - Espaços e tribos LGBT em Belo Horizonte, deverá enviar a história de sua saída do armário pra gente. Nos comprometemos do fundo do nosso coraçãozinho a resguardar a identidade da pessoa. Os melhores serão publicados aqui, nos damos o direito de editar caso o texto esteja ininteligível. Se você não saiu do armário, ou simplesmente não tem armário, aguarde que um dia iremos disponibilizar o livro inteiro neste blog. Mas se você está dentro de um e quer ler com urgência esse guia às avessas da vida gay belorizontina, tire já suas letrinhas do armário e envie pra gente no casinhaexperimental@gmail.com.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Andaluz


O Andaluz Club Café é resultado de uma operação siamesa ao contrário, fruto da união entre o Andaluz Casa Bar e o Club Café, que funcionavam um ao lado do outro. A entrada da boate é pela área onde ficava o antigo café, a decoração é quase a mesma, com quadros exibindo corpos de forma artística. Um orifício, também conhecido como porta, liga essa parte à pista de dança, que ocupa todo o espaço de onde era o Andaluz. Fui lá no último sábado e aprovei a mudança, apesar das mil pessoas na porta e do milhão aglomerado do lado de dentro. Anteriormente, fora lá uma vez e tinha achado muito chato, com gente dançando em círculo para ter visão 360º das pessoas a serem pegadas ou não.

Dessa vez foi diferente, estava em grupo de amigos e amigos de amigos (entre eles uma travesti, que passa fácil por mulher). O cardápio musical ficou no arroz-com-feijão gay, com música eletrônica tipo "Set me free", divas da música pop e até um remix mal-sucedido de "If a were a boy" da Beyoncé. O mais legal de tudo são as pessoas, bastante desprendidas, felizes por natureza e que se pegam a vontade e não fazem muito carão (por mais surreal que pareça). Tinha até aquele vidente que fazia previsões na Sônia Abrão, lembra?? Ressalva para o uso excessivo de bonés, que alguém explica porquê ainda se usa isso de noite. De resto, se você estiver interessado em se divertir sem se importar com a música e com uma fila do cão na saída, vá lá ver.

Endereço: Rua Congonhas, 487
Bairro Santo Antônio
31 3296 5942

P.S: Se não entender a referência da foto, não banca a bicha burra e procura saber.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo (?)


Confesso que o ócio é que me faz escrever nesse segundo dia do ano, naturalmente sobre coisas de fim/início de ano que a gente sempre diz e reflete e deseja. Por enquanto não traçamos quase nada para este blog em 2009, continua como repositório de textos sem periodicidade. 2009, por sinal, é Ano Internacional da Astronomia, quem sabe as estrelas tragam mais respostas sobre nossa vida na Terra?

Enfim...Chega de poesia barata.

Queria dizer que não gostei da fala do papa Bento XVI no fim do ano passado em prol do salvamento de gays.
Assisti a declaração no Jornal Nacional, em casa, enquanto meus pais estavam na igreja. Primeiro fiquei preocupado com o efeito das palavras dele, depois restou apenas uma indignação que sempre esteve no rol dos meus sentimentos contra ele.

Me entristece o fato de sermos escolhidos como as bruxas do século XXI, quando a Igreja não consegue manter a mesma influência de antes, não convence as pessoas com o mesmo ardor e precisa de novos inimigos. É preciso entender que embora o alvo sejam os homossexuais, a humanidade é que é atingida, fica mais intolerante, menos diversa. Crianças feridas em Gaza, no Sudão, gays e lésbicas perseguidos no Oriente Médio ou nas ruas de São Paulo, tudo isso tem a mesma origem: falta de compreensão das diferenças.

Momento "I have a dream": Eu bem queria começar o ano pensando só nos meus probleminhas, sabe? Emprego, academia, relacionamentos, etc. Mas ainda estamos em um mundo em que a visão estreita de poucos atrapalha a vida de muitos. No mais, Feliz 2009 para todos, todas e transgêneros!!!


P.S: Esse blog ainda não aderiu ao acordo ortográfico. A falta de acentos, se for o caso, é erro mesmo.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Emos, indies e modernos



Pela extravagância visual e na atitude, os emos são um grupo mais realçado no meio de tantos outros. São jovens que escutam hardcore com letras melódicas, têm cortes de cabelos que radicalizam uma franja que cobre um dos olhos, pretendendo um ar misterioso e dramático. As roupas lembram a agressividade punk ou a amargura gótica, as vestimentas negras com detalhes de spikes (espetos metálicos), couro, ganham detalhes amáveis, como pequenos bichos de pelúcia, dados, cerejas e bottons ilustrados e coloridos.


O termo “emo” foi criado nos Estados Unidos a partir de um estilo musical derivado do punk dos anos 70, o emocore. Com melodias hardcore aliadas a letras emotivas, as músicas do emocore, incitam um comportamento sensível e sofredor. Durante os anos 90, o estilo emo foi se refinando, absorvendo novidades tecnológicas do vestuário e tendências da moda jovem. No começo dos anos 2000 esse estilo de juventude chegou ao Brasil com bandas como Fresno e NX Zero. Os emos se reúnem na praça da savassi em grande volume e disputam lugar com punks e góticos. Porém, talvez devido a faixa etária predominantemente inferior, desaparecem a medida que a noite avança.

Avistados de longe, os indies se parecem com emos. O mesmo tênis all star, o mesmo padrão quadriculado em detalhes da camisa e até o mesmo cinto com rebites metálicos. Porém, há divergências cruciais entre os dois grupos: em primeiro lugar o estilo musical e em um segundo lugar apertado o corte de cabelo, menos radical e mais funcional. O termo “Indie” também tem suas origens nos anos 80, e denota bandas sem contrato com grandes gravadoras, que fazem um estilo de música que divergem ao comercial propagado pela indústria musical massificadora. Sonic Youth, The Stone Roses e Jesus and Mary Chain são algumas das bandas de indie rock que influenciaram a música indie nos anos 90 e 2000.

Indies, portanto, gostam de indie music. Ou quase isso. O gênero, denominado Indie que já fez referência às produções independentes, hoje abrange todas as bandas que seguem um estilo Indie, contratadas ou não. Por paradoxal que pareça, há um visual respeitado e uma sonoridade apreciada – aquela que não é compartilhada por muitos e não toca no rádio, de preferência. Talvez por essa recusa ao atual, a sonoridade indie vai muitas vezes reviver o que já fez sucesso nas paradas pops das décadas de 60 e 70, e, exaustivamente, na década de 80 e hoje está esquecido. Bandas como The Pippettes, Alphabeat, Interpol, Belle and Sebastian reciclam a sonoridade vintage. O estilo de vestuário acaba refletindo este revival, abusando de peças que rememoram outras décadas, all stars, vestidos, camisas abotoadas, óculos de aro grosso. O guarda-roupa de um indie também é composto pela manifestação do gosto através de camisetas com delicadas estampas de bandas desconhecidas do grande público.

Os modernos, por sua vez, são facilmente diferenciados das outras duas tribos. Em geral, eles brilham, literalmente, e estão a um passo à frente. Modernos gostam de música eletrônica e podem ter sua origem apontada no final dos anos 80 e início dos anos 90, com o desenvolvimento do Techno. Desde então, os modernos do ano 2000 gostaram de electroclash, passaram para o electrotrash, e depois de uma década de atitude blasée e distanciada de pobres mortais na pista, em 2006 juntam-se ao neo-movimento paz e amor. Em 2008, aderem ao new-rave, também reconhecido como movimento das festas para amizades instantâneas com música eletrônica dançante. O importante é sorrir bastante, usar muita cor e brilho e fazer um milhão de amigos na noite.

Eles estão em constante mutação. São levados pelas pré-tendências e muitas vezes são vanguarda de movimentos da estética pessoal que acabam no mainstream (aquilo que todo mundo começa a usar). Enquanto isso emos se vestem como seus ídolos sofredores e indies mantém uma tranqüilidade estilística monótona, trocando listras por bolinhas de vez em quando. Os modernos podem tanto abusar de cores e penteados quanto entrar em uma onda minimalista e monocromática, dependendo da estação.

Ao contrário de barbies, pocs, finas e colocadas, os emos, indies e modernos não são tribos exclusivamente compostas por homossexuais. A tribo do emocore é erroneamente generalizada como bissexual, enquanto o grupo apenas defende demonstrações de afeto independente do sexo ou orientação sexual. O emos adotam também uma estética andrógena, mas nenhum desses fatores impõe alguma definição sobre a sexualidade de seus integrantes. Talvez pela intenção de ser vanguarda e considerar esses preconceitos ultrapassados ou talvez por uma atitude de indiferença à orientação sexual, os indies e modernos condenam a homofobia e congregam grande parte de LGBTs.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Livros, filhos e árvores


Como anunciado no post abaixo, defendemos nosso projeto experimental nessa quarta-feira, dia 10. Fomos aprovados, eu (Vinícius) e Maria Tereza, agora virtuais jornalistas. Já é clichê dizer que publicar um livro é como ter um filho. Alguma verdade há nisso, mas não de todo. Fazer filho é coisa que se resolve em menos de meia hora dentro de circunstâncias favoráveis. 

Um livro demora muito tempo e nem sempre dá prazer. Depois da aprovação, muita gente me disse que agora eu só precisava plantar uma árvore e ter um filho para meu tempo valer aqui na terra. A única árvore que plantei, no jardim da Igreja Batista em minha cidade-natal, não chegou a crescer e foi cortada para dar lugar à casa do pastor. O filho é mais difícil. Na noite passada sonhei que a Maria Tereza queria engravidar e que eu doaria o sêmen pra ela, mas por alguma confusão onírica o projeto não foi adiante. 

Agora nós nos perguntamos: o que será desse blog? Faz sentido continuar com ele? Publicamos o livro-reportagem aos pouquinhos aqui? Continuamos a falar mal das boates de BH? Transformamos esse espaço em muro de lamentações público? Muitas perguntas, amigos. As respostas virão com o tempo. Nesse meio tempo vou continuar a pensar em novos filhos, árvores e livros. Um abraço!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Defesa


Depois de noites mal dormidas, várias entrevistas, milhares de caracteres, ficou pronto o nosso livro-reportagem! Com algum frio na barriga, nós convidamos você para assistir a nossa defesa, ou seria gongação pública?
Enfim, esse daí é o layout da capa, feito pelo artista Glauber Rodrigues.



Defesa de projeto experimental:



Livro-reportagem Cidade dos Outros - Espaços e tribos LGBT em Belo Horizonte

Dia 10, às 9h15 - Sala 2, terceiro andar da Fafich, Campus Pampulha/UFMG.



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Barbie boy, in a barbie wear.


“O mundo Barbie é cor-de-rosa, feito de sonhos e fantasia, onde tudo é possível.”, Cláudia Garcia, Almanaque Folha, sobre a boneca. 

A boneca Barbie foi criada em 1959, nos Estados Unidos, por Jack Ryan a pedido de Ruth Handler, esposa do dono da fábrica de brinquedos Mattel. Loura, de corpo esguio, mas bem torneado, a boneca é vendida em todo o mundo, seja em sua versão tradicional ou em versões temáticas: Fundo do Mar, Barbie Estrela, Barbie Borboleta... Já protagonizou dezenas de filmes, entre eles “A Magia do Arco-Íris”, lançado em 2007. Quase toda menina menor de 10 anos sonha ou já sonhou em ter um exemplar. Mas a Barbie não é sozinha no mundo, desde 1961 conta com a companhia de Ken, seu namorado, rapaz levemente bronzeado, corpo bem esculpido e cabelo liso ornado por um sutil topete.

Por um desvio de significado, a descrição de Ken caberia bem a qualquer barbie, personagem encontrado nas baladas gays aos montes. Malhados, bronzeados, cordão de prata no pescoço, cueca Calvin Klein com elástico à mostra, um jeito de dançar que evidencia cada músculo trabalhado na academia e expressão facial que ignora qualquer crise econômica ou as pessoas à volta. Quando optam por desprezar o uso da camisa, ficam bem semelhantes ao Ken da linha Barbie vai à Praia.

O sociólogo Carlos Figari, em seu livro, “@s Outr@s Cariocas –Interpelações, experiências e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro – Séculos XVII ao XX”, relata que o grupo não desperta muita simpatia entre outros gays: “Uma das mais concisas e pejorativas que ouvi a seu respeito é que ‘barbie tem corpo de Tarzan, cabeça de chita e voz de Jane’. Entretanto, essa rejeição encobre o fato de que a maioria dos outros as desejam, seja como modelo estético ou erótico”. O sociólogo completa o raciocínio lembrando que homens que ilustram capas de revistas gays, go-go boys e modelos publicitários, ao menos esteticamente, se assemelham às barbies.

Nesse momento, cabe um parêntesis: não se sabe porque, as barbies são chamadas assim, no gênero feminino, mas como todo mundo se refere dessa forma a esse grupo, da mesma forma será feito aqui. Preconceitos à parte, a tribo das barbies surgiu nos Estados Unidos na década de 80 como resposta às imagens de gays destruídos pelo mal da década, a Aids. Daí o excessivo cuidado com o corpo e a aparência, a falta de inibição em se mostrar, que se somam ao apreço a determinadas marcas e produtos e o gosto por música eletrônica.

Embora existam tantas definições sobre o que é ser barbie, seja a boneca ou a identidade, como visto acima, é difícil encontrar alguém que declare: “Sou uma barbie”. Segundo Carlo Figari, ainda em seu livro, entre elas não há uma autoconsciência coletiva. Na verdade, o grupo se constitui mais por compartilhar gostos e estilos de vida comuns do que usar uma camisa com a palavra “barbie” estampada, a estampa Everlast já é suficiente.

Nas noites de Belo Horizonte, pessoas caracterizadas como barbies costumam se concentrar principalmente na Josefine, embora não se sintam desconfortáveis na Miss Pig. Elas também costumam se reunir em PVT’s, festas privadas em sítios, onde rola muita música eletrônica e elas podem se exibir à beira da piscina.

P.S: Essa é uma partezinha do livro-reportagem, que fica pronto na sexta-feira!! Como está editada, tem muito preconceito destilado.  No desenvolvimento do texto, a coisa fica mais amena com as barbies, que são pessoas legais ;). Leia e comente.